22 janeiro 2011

Atenuante

À noite minha cama
se enche de demônios,
e o choro de crianças não nascidas.

São césares, otelos, minotauros,
creontes, menelaus, jasões e midas.

Chegam de costas, como a saírem,
carregando as almas tortas
mancando atrás dos corpos.

São íncubos furiosos e antigos
de olhos másculos, músculos,
espartanos,
falos maiúsculos

e vem brandindo os rabos
e os remorsos

pra ter alento
nessa boca tântrica
e na doçura soberana
do meu dorso.

tenho o equilíbrio das forças
entre as cheetas
e os antílopes,
papoulas, carma dos lobos,
entre meus dedos de morgana

tenho o olhar dos destinados
às grandes revelações
e martírios
contrastando com a cara
de sacana

e a pele santeria
manuscrita em pena ígnea
que dissolve cianetos,
aleijões, incestos,

e faz das faltas deles
meros palimpsestos.

Quando amanheçe,
e peço aos céus,
que acabe logo com isso...

bem, eles se vão,
como a chegar,
quando repito,
como se fora em prece:

"ao menos uma vez
me mandem cristo".

(postagem de 11/08/09, agora com vídeo feito por Márcia Regina Medina)

12 comentários:

  1. Putz...muito bom o poema!!! Imagens lancinantes...de deixar boquiaberto!!! beijos!!!

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  2. Parabéns, Flá Perez, seu polêmico poema é muito pungente e impactante! Sucesso. Muita benção. Tania.

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  3. muito bom, magnífico, saber poético erudito, lembra-me Baudelaire o grande poeta maldito... honra-me com tua leitura aos meus versos

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  4. Sua poesia e sua declamação dispensam comentários. Melhor ouvir você para entender.

    Grande abraço.

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  5. Parabéns pelos dizeres atolados de sensibilidade....

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  6. muito bem feito,e tocante,meu abraço forte

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  7. Pluralidade imagética... pluralismo de impressões... vir.ação... vade retro todo ai que a beleza vem e farta... belíssimo, Flá!

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  8. * Respoética:
    .

    Salvadora, Sonhadora, Mulher

    Descem dos céus os míticos senhores
    Os da terra seus velhos comensais
    Cada qual carregando os seus horrores
    Percorrendo os caminhos abissais

    Trazendo os apetites mais vorazes
    A saciar seus espíritos pagãos
    E suas carnes em fogaréu, tenazes
    Sem mirar-vos com seus olhos malsãos

    Estes são vossos lúbricos cultores
    Pesadelos vos dão vosso mister
    Ditador, trágicos, imperadores

    Todos têm direito à vossa cama
    Mas um santo é que sonha tal mulher
    Só não diz de verdade a quem mais ama.

    S. R. Tuppan

    .*.

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